terça-feira, 27 de outubro de 2009

Adiafa Filatelia



ENTREVISTA COM O DR. RAÚL MOREIRA


Considerando que o Dr. Raul Moreira, actual Director da Filatelia dos CTT Correios de Portugal, pertence à Comissão Executiva da transcendente Exposição Mundial de Filatelia FIP, PORTUGAL 2010, a realizar em Lisboa, de 1 a 10 de Outubro, no âmbito das Comemorações do Centenário da Implantação da República que tem lugar no próximo ano, proponho-me entrevistá-lo, na minha qualidade de jornalista da filatelia de Portugal, sobre os novos rumos, que julgo necessário tomar para que esta rejuvenesça.
Para não falar nos 12 anos que escrevi para a extinta “Crónica Filatélica” de Madrid é minha a única reportagem internacional da PORTUCALE 77. Fi-lo para uma revista de filatelia italiana, com fotos de Joaquim Cortes.
Tendo como causa a próxima PORTUGAL 2010, e porque em todas as actividades que desenvolvi em bastantes sectores, só me interessei por ser actor e não espectador passivo, resolvi apresentar várias perguntas a Raul Moreira, sobretudo na sua qualidade de Director do Departamento de Filatelia dos Correios, sobre o Marketing que, na minha opinião, lhe faltará.
Tendo em conta que o pensamento do jornalista, neste caso de filatelia, será o do grande público coleccionador, apresento várias questões.
Nunca serão indiscretas, cabendo a quem são dirigidas, dar respostas claras, mesmo que discretas.
É nesse sentido que passo a palavra ao meu entrevistado, com quem já colaborei em Lisboa, na Comissão Executiva da LUBRAPEX 1984.


DC - Em 2003, um seu antecessor, Dr. Francisco Leiria Viegas, na celebração dos 150 anos do Selo Português, numa entrevista, publicada na Revista “Clube do Coleccionador”, disse esta frase lapidar: “Se houver criatividade surgirão novas interpretações do uso do selo”. A Direcção a que preside tem os termos da frase em conta?


Dr. Raul Moreira - A Criatividade e as novas formas de uso do selo – Fizémos, depois desta afirmação do Dr Leiria Viegas, o 1º selo postal em cortiça do mundo e, já este ano, a 1ª emissão comemorativa de selos que abordassem todos os 5 sentidos, desde o olfacto ao gosto, passando pelo tacto… Isto significa que inovar faz parte intrínseca da nossa forma de estar na Filatelia.


DC - Dr. Raul Moreira tem a perfeita noção que a filatelia, jamais se esgota na estrutura federada uma vez que pode ser conhecido, a mesma não representará mais de 30% dos filatelistas dos próprios ficheiros que a Direcção de Filatelia detém?


Dr. Raul Moreira - A Filatelia Federada e a “outra” Filatelia - Em termos formais os Correios Editores – Operadores Postais Designados – apenas têm relações oficiais com os organismos federativos filatélicos. Este tipo de relações está protocolado, no caso de Portugal e de muitos outros países. A razão é simples: é muito mais fácil existir um diálogo com uma única entidade (nem que que a mesma represente 1000 clubes), do que com cada um desses 1000 clubes. Por outro lado os órgãos federativos são democraticamente eleitos e são oficialmente reconhecidos pelo Governo do país… Dito isto, obviamente que reconhecemos que a Filatelia não se esgota na Federação nem no desporto organizado que passa pelas Mostras e pelas Grandes Exposições. Se pensarmos no dinheiro que custa ter uma colecção portuguesa capaz de atingir os grandes prémios internacionais rapidamente compreenderemos isto.

DC – Já pensou no quanto o comércio filatélico, um importante dinamizador da filatelia, faz falta numa exposição filatélica para atrair público?

Dr. Raul Moreira -  O Comércio filatélico como atracção de Público nas exposições – Estou de acordo. De facto uma Grande Exposição vive muito do número de comerciantes presentes e dos seus stands. O Filatelista gosta de procurar as peças especiais nestas alturas e raramente tem tão boas oportunidades para encontrar tanta oferta potencial no mesmo espaço.


DC – No segundo Boletim PORTUGAL 2010, aparecem os módulos oficiais para as instalações destinadas a comerciantes, estará a fazer-se tudo para estimular o comércio internacional, que a uma exposição de grande envergadura deve ser augurado?


Dr. Raul Moreira - Dinamização da PORTUGAL 2010 junto dos Comerciantes – Temos neste momento 15 comerciantes confirmados, aos quais há que juntar o grupo Philagenthur, Agentes dos Correios de Portugal em muitos países do mundo e que estarão presentes com pelo menos 3 módulos.
Fizemos apresentações aos comerciantes nas feiras de Bruxelas, 2007, Bucareste em 2008 e regressámos mesmo agora de Roma, onde mais uma vez o certame foi apresentado aos Dealers lá presentes. Noto que , desde o colapso do Grupo AFINSA, faz falta termos em Portugal um comércio forte, que potenciasse a presença dos seus congéneres na PORTUGAL 2010.


DC – O comércio filatélico português, dada a sua conhecida debilitação, irá ter incentivos?


Dr. Raul Moreira - O Comércio Português e incentivos à participação na PORTUGAL 2010 – Será permitido partilharem stands. Os custos serão sempre mais baixos porque os nossos comerciantes poderão deduzir o IVA directamente.


DC – Dado que actualmente, só são emitidos selos porque existem filatelistas, uma vez que a utilização dos mesmos se tornará mais onerosa para o serviço de correio, que a mecanização, não seria conveniente um forte marketing, num site apropriado e em permanente actualização na Internet?


Dr. Raul Moreira - Os Selos no mundo moderno onde a mecanização postal os torna obsoletos - Existem, em todo o mundo, mercados de nicho, onde é possível os verdadeiros aficcionados continuarem a usufruir daquilo que verdadeiramente gostam. Por exemplo, veja-se o caso das canetas de tinta permanente, quando toda a gente dizia que os PC’s iriam matar este tipo de produto, mas de facto a conhecida marca alemã Montblanc nunca vendeu tanta caneta como hoje em dia … Quero com isto dizer que o selo postal sairá do “mainstream” como produto de consumo massificado para se tornar um produto de élite, escolhido de propósito por alguns para utilizarem nas suas cartas especiais. Ou para coleccionarem… Quanto ao Site , ele já existe e nele fazem-se sempre referências às últimas novidades dos CTT quanto à Filatelia.


DC – A transcendente PORTUGAL 2010, não devia contar já com uma equipa própria de criativos, num site especial, importante na dinamização e divulgação internacional da exposição, tendo em conta, uma maior rentabilização da filatelia oficial?


Dr. Raul Moreira– A PORTUGAL 2010 e a respectiva divulgação na InterNet – Existe já há um ano o Site InterNet da PORTUGAL 2010, onde se podem consultar as últimas novidades sobre a exposição. O facto da crise ter caído em cima de nós evitou que o investimento nesse site e nas suas ferramentas fosse mais sofisticado, mas existe e é visto por muitas pessoas, todos os dias. Também estaremos brevemente no “Second Life” e ainda a Direcção de MKT dos CTT vai adoptar – em cross selling – as suas iniciativas no Portal “Irrequietos” para divulgar a PORTUGAL 2010 aos jovens de todo o País.


DC – Depois destes factos, questiona-se, a PORTUGAL 2010, não deverá ser aproveitada para dinamizar bastante o espectro filatélico nacional, concomitantemente o internacional, procurando-se incentivar mais o uso do Selo Personalizado e lutando para que a FIP lhe venha a conferir o estatuto de especialidade filatélica, passando a admiti-lo como Classe nas exposições sob a sua égide?


Dr. Raul Moreira – O Selo personalizado e a PORTUGAL 2010 – A UPU e a FIP têm uma visão do selo personalizado que é a mais liberal possível… Penso que não faltará muito para que os possamos ver em exposições internacionais. Durante a PORTUGAL 2010 os CTT de Portugal irão dinamizar este produto e também o seu derivado “MeuPostal” dentro da exposição.


Senhor Dr. Raul Moreira, muito obrigado pela sua atenção.
Ainda lhe queria dizer, que julgo ter sido o primeiro jornalista filatélico português, a noticiar a inovação na filatelia, dos primeiros Selos Personalizados. Foi na Exposição Mundial AUSTRÁLIA’99.
Hoje com a rápida evolução tecnológica, o futuro da rentabilidade emissora filatélica tende a concentrar-se no Selo Personalizado, o que deve ser implementado junto das grandes empresas, usando-o com o seu próprio logótipo, a sua identidade.


Daniel Costa


6 comentários:

Val Du disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando Bernardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
xistosa, josé torres disse...

"Se houver criatividade surgirão novas interpretações do uso do selo"

Se houver criatividade parece que o selo desaparecerá em poucos anos.
Já nem sei quanto custa um para uma carta vulgar.
Apesar de continuar a utilizar caneta (vai ser até morrer), penso que o selo terá os dias contados.
O selo como o conhecemos.
A franquia mecânica também lhe deu uma machadada. Mas nesta voragem da vida não há compaixão.
Que os coleccionadores mantenham uma dinâmica, porque os particulares acabarão com o selo.
Bom post.

Val Du disse...

Oi, Daniel.

Parabéns pela entrevista.

Abraços.

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, Poeta!
Bela entrevista! Parabéns! Selos antigos são algo raro, guardo os meus desde pequena em álbuns, tenho até o BOI. Aqui, no Brasil, estão longe da extinção. Sei disso, porque toda semana, vou cerca de 2 a 3 vezes aos Correios e tudo é na base do selo ainda. Muito linda a sua entrevista, muito lindo todo o seu trabalho. Merece todas as felicitações e todos os incentivos de todos os mundos
Beijos e beijos,

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, Poeta,
Passando para dizer-lhe que tenho um exemplar original do OLHO DE BOI, herança do meu tio-avô, e dois da segunda edição comemorativa. Se o amigo quiser, posso enviar-lhe um desses últimos. Aguardo resposta.
Beijos e Bom Dia!
PS: Obrigada pelo comentário! Vou dormir, não sei a que horas volto